terça-feira, 31 de maio de 2005

Bombons Chineses

Li, há algumas semanas, o Bombons Chineses de Mian Mian. Eu diria que o livro é interessante, mas aí me lembro da minha amiga alemã, a Silke que diz que quando os brasileiros dizem que uma coisa é ‘interessante’ é porque não têm coragem de dizer que é ruim.....Enfim, Silke não vai mesmo ler esse post, então.....digo ou não digo? Sim, o livro tem seu interesse: Xangai, sexo, drogas, rock and roll…

Muita gente já conhece esse livro de capa bonita, vermelha com uns caracteres chineses, um seio num quadradinho e o selo da Geração Editorial embaixo.... Quê? Porque é que eu não coloco a foto da capa aqui ao invés de ficar explicando? Ah, muito simples, não sei colocar fotos aqui, juro que não sei e estou morrendo de preguiça de aprender, explicar me cansa menos. Mas há uma solução para esse problema da imagem, clique aqui no blog do Flávio e lá tem a foto, um comentário sobre o livro, uma pequena biografia de Mian-Mian. Foi exatamente por causa do livro que o encontrei e descobri que ele também tem um fraco pelos autores asiáticos.

Na minha opinião o livro carece de uma revisão. Está longe de ser o meu livro favorito, mas valeu a pena as horas dispensadas na leitura. Quase tudo o que conheço da Literatura Oriental data de Mathusalém o que não é verdadeiramente um problema em se tratando de literatura, mas aqui dei de cara com uma chinesa moderna, o que quer dizer, bastante perdida, autodestrutiva, mas com um coração.


Bombons chineses
Mian Mian
Geração Editorial

domingo, 29 de maio de 2005

Um poema antigo

Café Expresso

que seja quente
por favor
toda noite fria
termina com um café
expresso a minha dor
deixando as lágrimas
rolarem suaves
nada nesse café
é menos triste
que a minha dor
todas as faces
vincadas de tormento resignado
olhos crispados de desamor
uma angústia silenciosa
ronda cada peito
a mão soberana
ergue uma Stella Artois.
a temperatura lá fora
é sempre a mesma
aqui dentro é sempre outra

(06/03/96, Bruxelas)

Leila Silva

segunda-feira, 23 de maio de 2005

Vislumbres da Índia

Quando vivia na Ásia planejei, mais de uma vez, viajar pela Índia, tal viagem nunca se deu por mais de uma razão: desorganização, incompetência, falta de tempo, um certo medo, talvez. O fato é que nunca lá estive. Semana passada comprei, em Florianópolis, este Vislumbres da Índia – Um diálogo com a condição humana - e pus-me a viajar com Octavio Paz. Melhor companheiro de viagem não poderia haver, sobretudo em se tratando desse destino.

O autor conhece bem a Índia pois viveu lá trabalhando, primeiro como segundo secretário na embaixada do México e, anos depois, como Embaixador. Vislumbres da Índia é um pequeno livro, um ensaio de, exatamente, duzentas páginas nessa edição Mandarim de 1996 que adquiri. Octavio Paz explica que escolheu a palavra ‘vislumbres’ por significar ‘indícios’, ‘realidades percebidas entre a luz e a sombras’, o que quer dizer que “esse livro não é para especialistas”. Pode até não ser, mas mesmo os especialistas devem ganhar muito com a leitura dele, é riquíssimo em impressões, análises da cultura, religião, línguas, cozinha, o sistema de castas, política, etc. Eu não desgrudei do livro enquanto não cheguei à última página, ou melhor, só por uns minutos durante um vôo em que Dona Lucrécia se sentou do meu lado e não parou de falar, olhou para a capa do meu livro, perguntou se Octavio Paz era brasileiro, teceu algumas considerações sobre a Índia, meditação e pobreza....mas esta é outra história.

Nas primeiras páginas em que conta a sua chegada à Índia, o autor se pergunta “O que me atraía?” e fala daquele deslumbramento quase ingênuo que temos ao nos ver diante de tanta coisa nova ao mesmo tempo, tanta que não conseguímos discernir. Eu também fiquei assombrada, deslumbrada ao penetrar a Ásia, mais do que ir, visitar o lugar e voltar, considero uma sorte ter podido viver lá ainda que por pouco tempo, menos do que eu gostaria. Na impossibilidade de responder à pergunta sobre o que o atraía, Octavio Paz recorre a T.S. Eliot “O gênero humano não pode suportar tanta realidade.”

Sublinhei vários trechos que chamaram a minha atenção, que eu gostaria de ler melhor depois e que também pensei em colocar aqui....mudei um pouco de idéia quanto a isolá-los assim nesse apanhado rápido, num momento de puro entusiasmo quando acabo de fechar o livro e mal digeri o que li. Descontextualizar pode ser um ato perigoso. Ainda assim vou arriscar uma ou duas citações, a primeira se refere à democracia. Nos Estados Unidos a maioria da população repete essa palavra a torto e a direito, inclusive com ela justificando guerras, mas nunca ou quase nunca, me parecia, indo ao âmago da questão que seria se perguntar de vez em quando, o que é o real significado da palavra e como ela está sendo usada por um político e outro. Sobretudo depois de ter vivido nos Estados Unidos, alguns vocábulos não me deixaram, dois deles são: democracia e liberdade que vivem na boca do povo, do intelectual, do religioso, cada um usando-o a seu modo e a maioria se deixando engambelar. Então, para Octavio Paz:

“Certamente a democracia também pode ser tirânica, e a ditadura da maioria não é menos odiosa que a de uma pessoa ou a de um grupo. Daí a necessidade da divisão de poderes e do sistema de controles. Mas as melhores leis do mundo convertem-se em letra morta se o governante é um déspota, um homem que domina os demais porque é incapaz de dominar-se a si mesmo.”

Como diria a Dona Lucrécia, ‘disse tudo’. Vou até abandonar a outra citação, acho que já é bastante para perceber o quanto essa leitura pode ser valiosa, sobretudo para quem tem um mínimo interesse pela Ásia.



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Um dos epigramas selecionados por Octavio Paz como exemplo da arte literária hindu:

Amor

Admira a arte do arqueiro:
Não toca o corpo e rompe corações
.


Vislumbres da India, Octavio Paz, Editora Mandarim.

quinta-feira, 19 de maio de 2005

Perspectiva

Um dia, caminhava eu pelas ruas de Kuala Lumpur, perto das famosas Torres Gêmeas e fazia calor, muito calor, desses que a gente só suporta com a ajuda de Allah ou dentro de uma piscina fresca. Foi então que vi sair de um carro uma mulher toda vestida de preto, dos pés à cabeça, como se vestem as iranianas. Na Malásia também as muçulmanas se cobrem da mesma maneira, mas com tecidos coloridos[A1] . Depois que desviei o olhar dessa mulher toda de preto, vi o que devia ser o marido…vestido de bermuda de algodão e camiseta, a cabeça alta e arrogante. Pelo menos foi assim que me pareceu.

A minha vontade foi de ir até o ragazzo e encher-lhe a cara de bolachas. Aquela cena me parecia um atrevimento. Evidente que não o fiz, senão o meu séjour na Malásia poderia ter durado um pouco menos...ou um pouco mais. E não adiantava também torcer o nariz para demonstrar – infantilmente, concordo - a minha contrariedade. Com o meu short e camiseta, eu não passava de um putón. Ele não ia desviar o olhar para o meu nariz.

Enfim, isso foi apenas uma cena e eu posso ter analisado tudo errado, isso acontece. Às vezes a gente anda na rua (pelo menos eu sou assim), vê uma pessoa e imagina o presente, passado e futuro, não? E pode ser tudo completamente o contrário do que a gente imagina. Veja, quem sabe aquela mocinha de ar submisso não era, na verdade, uma jornalista ou uma estudante tentando ‘entrar’ na pele de uma muçulmana tradicional. Queria ver como elas se sentem vestidas de preto sob aquele sol de rachar mamona e aquela umidade própria da região….quem sabe? E o cara que eu tomava por marido podia ser um colega de curso, um outro jornalista, um irmão….sei lá. Mas que ele desempenhava bem o seu papel, ah, desempenhava.

Na verdade não era na Malásia, nem nas muçulmanas, véus e afins que eu estava pensando quando me sentei aqui, eu pensava na cabeleireira brasileira, dona de um salão onde estive outro dia. Uma cabeleireira de um bairro classe média baixa, uma mulher razoavelmente bonita, de menos de quarenta anos, nem magra nem gorda e que tem um filho de 21 anos. Tudo isso eu entendi ouvindo a conversa entre ela e uma cliente que tem mais ou menos o mesmo perfil. Num dado momento, uma das meninas que trabalhava no salão perguntou-me se em Londres (em Londres e não na Inglaterra!) se falava espanhol ou inglês. Nem sei como respondi tal pergunta.

Bom, onde mesmo eu queria chegar? Ah, essa cabeleireira e a outra cliente discutiam um assunto, pelo jeito muito em voga no Brasil, cirurgia plástica: preços, detalhes, nomes de médicos…Conheciam tudo. E era caro!

Bom, daí lembrei-me também de um artigo de uma escritora muçulmana, se não me engano o título era algo como: Prisioneiras do 38. A autora falava do choque das mulheres ocidentais diante do estilo de vida das muçulmanas, sobretudo o pesado símbolo do véu, e concluía que submeter-se a esse padrão ditado por nossa sociedade era, muitas vezes, tão ou mais cruel que usar o véu ou todo aquele apetrecho.
É tudo uma questão de perspectiva.




[A1]: uma saia muito longa, por cima, uma espécie de bata, também longa que desce sobre uma parte da saia, mangas compridas e o véu muito bem fechado no rosto, abaixo do queixo.

quinta-feira, 5 de maio de 2005

Japoneses, Luiza e cafuné

Manchetes:


Os japoneses inventaram um aparelho que traduz as emoções dos cachorros.

Adolescentes japoneses se fecham nos seus quartos durante anos a fio. Incomunicáveis.

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Luiza

A minha sobrinha de sete anos, Luiza, é um pequeno demônio…e linda como ela só. Às vezes temos os nossos conflitos porque eu também sei ser infantil e também porque nunca convivi muito com ela e com o seu gênio tenebroso. Mas tenho que reconhecer que ela é uma graça e cada dia me apego mais.


Estávamos no sítio, no ultimo feriado, e a pequena Luiza agora fala tanto que compete com o papagaio que meu pai tem lá. É normal que os adultos cansem as orelhas e parem de prestar atenção. Assim estávamos eu e o irmão dela, dez anos mais velho, no laptop estudando alguma coisa e não dando a mínima para as palavras que ela continuava a soltar apesar de nossa indiferença, de repente escutei:
‘Porque para viver a gente precisa de: água, ar, comida e cafuné.’

Epa, estava ficando interessante, a partir daí eu passei a prestar atenção. Como não?
‘Cafuné, Luiza?’
‘Cafuné, tia Leila!’ Repete professoral e contente por ter, finalmente, encontrado um interlocutor.
‘É assim, tia Leila, cafuné, quer dizer, carinho, né….ser educado, ter paciência…’
‘É mesmo, Luiza, eu concordo, mas parece que agora mesmo eu vi você lançar, com toda a força, uma sandália na cabeça do seu irmão!’
E Luiza ri. Aperto mais um pouco e ela muda o ‘a gente precisa’, lá do início por:
‘Tá bem, EU preciso.’

Ela é boa de discurso, mas quando os argumentos acabam é melhor a gente sair correndo.


terça-feira, 3 de maio de 2005

Ex-Libris da Tugosfera

Dando continuidade à corrente proposta por Manoel Carlos.


Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?

Ser um livro? Nunca me imaginei um livro e nem sei que critérios usar, um livro fino, um livro elegante? Bem, nesse momento eu escolheria ser Orlando, de Virgínia Woolf.


Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por um personagem de ficção?

Será que ‘apanhadinho’ quer dizer ‘caidinho’? Não, acho que não.

Qual foi o último livro que compraste?

Os de Moacir Lopes que acabei de ler e Patrícia Highsmith, Strangers on a train, que ainda não li.


Qual o último livro que leste?

O Almirante Negro e A Ostra e o Vento de Moacir Lopes.

Que livros estás a ler?

Estou lendo, muito devagar, a biografia de Virgínia Woolf por Quentin Bell, Totem e Tabu de Sigmund Freud, Tu não te moves de ti
Hilda Hilst.

Que livros(5) levarias para uma ilha deserta?

O Evangelho segundo Jesus Cristo, de Saramago, as obras completas de Oscar Wilde, as obras completas do Graciliano Ramos, uma boa tradução da Bíblia (um dia vou ter que encará-la, quem sabe não aproveito a solidão desta ilha), Manuel Bandeira, obras completas. Uf! Nunca pensei que fosse tão útil essas ‘obras completas.’

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e por quê?

Eu gostaria de passar a corrente para muita gente, mas me dou conta de que muitos dos meus amigos não usam a internet, não têm blog (nem o meu visitam, alguns nem sabem o que é isso), então, seguindo o padrão ‘manuelino’, deixo aqui os nomes e endereços daqueles que têm blog e que eu sei, apreciam uma boa leitura.

Um personagem: Dani Sorris
Caminhos de papel: Carlos Bruni
Beto Muniz: Beto
Cá onde estou: Mi
Caminhos: Laura