sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

o poema da sexta-feira

Marcha de quarta-feira de cinzas

Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou.
 


Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri, se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor.


E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade...


A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir, voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida, feliz a cantar.


Porque são tantas coisas azuis
Há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe...


Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando seu canto de paz.


Vinícius de Moraes

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Santiago

Santiago
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De volta à vida normal, ou seja, Curitiba, aulas, preocupações. Santiago, Valparaíso, etc já começa a ser 'passado'. Tão rápido. Violaine, a francesa biônica, já toma hoje os rumos da Europa, volta para seu castelo em Villefranche de Conflent um vilarejo de pouco mais de 200 habitantes.
Comprei poucos livros no Chile: Vargas Llosa, Octavio Paz, Neruda (mais óbvio impossível), Gabriela Mistral (óbvio também), um livro de contos de vários autores e mais dois ou três para presente. Achei meio caro os livros por lá e não há tantas livrarias como em Buenos Aires. É verdade que não me sobrou muito tempo para explorar esse lado, pode ser que tenha alguma região mais interessante para livrarias e sebos. Estou lendo justamente o Vargas Llosa que comprei, comecei a leitura lá mesmo Travesuras de la Niña Mala. Confesso que não estou muito empolgada com esta leitura, mas vou continuar um pouco mais e depois comento aqui.
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Mário de Andrade

No dia 9 de outubro de 1893 nasceu Mário Raul de Moraes Andrade na cidade de São Paulo. E morreu também em São Paulo no dia 25 de fevereiro de 1945.

Na universidade eu tive que ler Mário de Andrade, claro, mas a professora de literatura brasileira era tão insuportável e preguiçosa que não devo a ela nada do que sei e do que apreendi de Mário de Andrade. E na verdade não foi muito, fiz as leituras que a maioria fez, Macunaíma, Amar, verbo intransitivo, Paulicéia Desvairada...acho que este último foi só na Letras mesmo. Eu reli o Prefácio interessantíssimo quando viva nos Estados Unidos, 2001, talvez. Encontrei o livro na biblioteca do meu bairro, em Atlanta. Achei interessante dar de cara com o livro ali tão longe de tudo, quer dizer, do Brasil, de Macunaíma, de Macabéia...Não, de Macabéia, na verdade a gente é meio Macabéia quando é imigrante.
E num dia 25 de fevereiro faleceu Mário de Andrade, um dos nossos melhores autores.
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Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquisila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar de uma vez:
E só tirar a cortina
Que entra luz nesta escuridez.
Mário de Andrade.

domingo, 22 de fevereiro de 2009


Robert Doisneau
Paris

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O poema da sexta-feira

TIERRA CHILENA

Danzamos en tierra chilena,
más bella que Lía y Raquel;
la tierra que amasa a los hombres
de labios y pecho sin hiel...

La tierra más verde de huertos,
la tierra más rubia de mies,
la tierra más roja de viñas,
¡qué dulce que roza los pies!

Su polvo hizo nuestras mejillas,
su río hizo nuestro reír,
y besa los pies de la ronda
que la hace cual madre gemir.

Es bella, y por bella queremos
sus pastos de rondas albear;
es libre y por libre deseamos
su rostro de cantos bañar...

Mañana abriremos sus rocas,
la haremos viñedo y pomar;
mañana alzaremos sus pueblos;
¡hoy sólo queremos danzar!

Gabriela Mistral

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Chile - Santiago

De volta a Santiago e a coisa mais incrível, vou encontrar meu irmao aqui. Tudo por acaso. A coincidência nao seria incrível se viajássemos os dois o tempo todo pelo mundo, mas nao é o caso. Voilâ, daqui a meia hora o encontro na Plaza de Armas. Ele está aqui por conta do filme no qual está trabalhando (documentário ). Daqui eles vao, se nao me engano, para a Alemanha e eu volto para Curitiba mesmo.
Está um calor dos diabos aqui em Santiago e minha cara amiga francesa desfila com um foulard em torno do pescoço, quanto mais calor melhor para ela. Cruzes!
Fomos a Valparaíso, Vina del Mar, Los Andes e regiao. Ela queria porque queria ir para o norte que, eu acredito, é maravilhoso, mas....mais de 15 horas de ônibus par um veni vidi vici. Non non non. Eu disse que ela podia ir só, eu a esperaria em Santiago, nao quis, ou estamos juntas ou nao estamos. Oh la la. Enfim, fomos negociando tudo, juro que estou fazendo muito esforco, hoje fomos cavalgar na regiao de Los Andes, coisa que eu só tinha feito quando crianca. Foi uma aventura e tanto para mim, nao gosto. Sei que é bobagem, mas nao me parece justo que o animal me transporte assim, coitado. Nao sou tao pesada, nao é isso, mas me parece uma coisa completamente desnecessária, já existe carro, afinal de contas. Nao sou o tipo de turista que se faz fotografar em cima de camelo, elefante, odeio, nunca vou fazer isso. Claro que cavalo é diferente, mas sei lá, o coitado nao escolheu e me dava pena. Deve ser pura bobagem isso, mas nao é para mim. E meu cavalo, Violaine quase morreu de rir, parava para observar, para comer uma graminha...."Leilá, seu cavalo já está parecendo com você". Nao, nao como grama, minhas paradas sao para o cafezinho.
Bo, agora vou encontrar mi hermano.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Valparaiso

Continuo andando pelo chile com minha amiga francesa que parece uma máquina, anda anda anda, sobe escadas, desce escadas - e escadas e o que há em valparaiso- nao se cansa, nao precisa tomar água, nao precisa de banho, nao precisa dormir. Quase me mata, mas estou me divertindo, os primeiros dias foram mais difíceis, hoje consegui fazer com que ela diminuisse um pouquinho o ritmo, até nos sentamos 5 minutos na praia para conversar calmamente. ok, um pouquinho mais....e comemos num restaurante de verdade, como é bom, até agora estávamos vivendo de empanadas.

Mas explico parte da energia de minha amiga, ela é maratonista e além disso é guia num castelo no sul da frança, todos os dias sobe e desce, mais de uma vez, mais de oitocentos degraus e anda o dia inteiro pelo castelo. Vou visita la ainda este ano, mas ela prometeu que vai ser boazinha comigo.

Estamos neste hostel, caracol, muito bacana, mas o caminho para chegar aqui....oh la la, uma subida daquelas. Para as pessoas normais existe um elevador lá embaixo, nós só o usamos no dia da chegada por causa das malas.

Agora vou ler um pouco e descansar as pernas, assim que conseguir parar narro as aventuras com a mulher biônica.


domingo, 15 de fevereiro de 2009

Hopper

Office at night
E. Hopper
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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O poema da sexta-feira

Poeminho do Contra

Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

Mário Quintana

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Chile

Estamos com uma amiga francesa aqui, uma moça de 25 anos que veio trabalhar conosco no ano passado e este ano veio de visita por umas 3 semanas. Nessas 3 semanas queria fazer um montão de coisas, primeiro o sistema de transporte do Brasil mudou os planos dela. É caro e difícil viajar no Brasil....e olha que ela tem disposição para enfrentar os ônibus. A outra coisa que atrapalhou um pouco foi um bicho que a picou, o médico disse que pode ter sido uma aranha marron. Ficou mancando uns dois dias até que a convencemos que era melhor ver um médico, agora está melhorando, foi até para a ilha do Mel hoje cedinho.
Bom, ela se chama Violaine, disse que seu pai queria chamá-la Violeta (por causa de Violeta Parra), a mãe não concordou e conversando chegaram a Violaine. Então a família que sempre foi de esquerda tem assim um 'encantamento' pelo Chile. Sem poder sair muito esses dias, Violaine procurou e encontrou um bilhete por um preço razoável para Santiago e eu decidi ir com ela já que ela sai na sexta que é um dia em que não trabalho muito, durante a semana alguém vai me substituir. Não planejei nada e não vou ter muito tempo hoje. Violaine está planejando para nós duas, eu vou levar os guias e dar uma olhada durante a viagem. Nunca fui ao Chile, conheço mal a América do Sul, vai ser muito bom.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Dali

The Businessman
Salvador Dali
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O Poema da sexta-feira

Insomnia

The moon in the bureau mirror
looks out a million miles
(and perhaps with pride, at herself,
but she never, never smiles)
far and away beyond sleep, or
perhaps she's a daytime sleeper.

By the Universe deserted,
she'd tell it to go to hell,
and she'd find a body of water,
or a mirror, on which to dwell.
So wrap up care in a cobweb
and drop it down the well

into that world inverted
where left is always right,
where the shadows are really the body,
where we stay awake all night,
where the heavens are shallow as the sea
is now deep, and you love me.
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Elizabeth Bishop
(08/02/1911 - 06/10/1979)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Gomorra

O escritor italiano Roberto Saviano, ameaçado de morte pela máfia após escrever o livro "Gomorra", afirma com resignação que sabe "muito bem" que cedo ou tarde pagará por ter contado em sua obra as atividades ilegais da Camorra napolitana.
"O que me mantém com vida, minha verdadeira proteção, é estar atento ao que acontece comigo e ao meu redor. Mas sei muito bem que um dia me farão pagar. Só é preciso saber como e quando", disse Saviano em entrevista que a emissora de TV "Euronews" exibirá amanhã.
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Eu vi no final do ano passado o filme baseado no livro de Roberto Saviano. Não conhecia o livro e também não tinha lido sobre o filme, estava em São Paulo já cansada de andar e de tomar chuva e decidi entrar num cinema que normalmente apresenta bons filmes (na Avenida Paulista, dentro de uma galeria, esqueci o nome).

No começo eu não estava entendendo nada do filme, é muito violento, bem pesado mesmo, como eu não tinha referências estava ali me perguntando que baderna era aquela, aquilo era filme, documentário, verdade, mentira...mas o filme é interessante nem que seja para uma tomada de consciência mesmo. Agora todo mundo está falando dele e o livro está aí nas prateleiras de todas as livrarias. O pobre do autor está numa situação parecida com a de Salman Rushdie há alguns anos. Um inferno.
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Essa semana assisti Kramer versus Kramer, um filme de 1979 que todo mundo já tinha visto exceto eu. Até pensei que já tivese visto também e esquecido, mas já nas primeiras cenas me dei conta que era a primeira vez mesmo. E como fui 'cinematograficamente' feliz até aqui sem ter visto este filme eu não entendo. Gostei muito muito muito, o garotinho do filme é a coisa mais linda. Tão triste ver o casal se separando, o cara sem se dar conta do que está acontecendo pelo envolvimento com o trabalho, a esposa com a mala na porta e ele ali achando que aquilo é só uma crise, uma tpm, continua a falar de sua promoção e ela apertando os botões do elevador. Às vezes ficamos cegos para o que está acontecendo em casa, não é só o homem. Isso me lembra Emily Dickinson:
"To live is so startling, it leaves little room for other occupations."
Não que ela estivesse falando de situações do gênero neste poema, quis dizer muito mais, mas ela me veio à cabeça.
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Lendo LES MANDARINS, Simone de Beauvoir.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Depois da Chuva

Vi ontem à noite este que eu imaginava um dos filmes de Kurosawa, não é exatamente dele, ele escreveu o roteiro baseado num conto do autor japonês Shugoro Yamamoto (não conheço, mas deve ser bom) e quem dirigiu foi Takashi Koizumi que trabalhava com Kurosawa. Eu achei lindo o filme.

É a história de Misawa, um samurai, desempregado, um homem talentosíssimo, mas com dificuldades para permanecer num emprego porque lhe falta alguma coisa, não se integra embora seja uma pessoa boa, generosa, humilde, talvez humilde demais para um samurai. Ele está com a esposa numa hospedaria esperando que a chuva passe para poder atravessar o rio e continuar na sua busca. Na mesma hospedaria se encontra um grupo muito pobre e que, com o estômago vazio e a chuva incessante, já começava a ter problemas de relacionamento. Misawa, com pena deles, inventa de preparar uma festa, ele tampouco tem dinheiro, mas tem a sua espada, ele vai a um castelo das redondezas e desafia os outros samurais, luta por dinheiro, isso não é nada bom para o currículo de um samurai, mas ele arrisca a reputação assim mesmo.

Num de seus passeios enquanto esperava as águas do rio baixarem, ele encontra um grupo lutando e impede um duelo. O senhor do castelo daquelas terras percebe a sua interferência e fica encantado com sua atuação. Este senhor estava justamente à procura de alguém que pudesse se ocupar do treino de seus empregados e oferece o posto ao samurai peregrino, ele fica muito contente, claro, estava à procura de um trabalho, mas logo desperta a inveja dos outros conselheiros do castelo e tudo vai de novo pro brejo, coitado.

É bem interessante a parte em que dois conselheiros do castelo vão até a hospedaria para dizer a Misawa que infelizmente ele não tinha sido aceito para o cargo porque descobriu-se que ele tinha lutado por dinheiro. Ele diz que era verdade, tinha mesmo feito isso, que era indigno (bem japonês). Sua mulher que estava ouvindo a conversa diz aos dois que ele tinha lutado para poder oferecer comida e um pouco de alegria a algumas pessoas simples. Ela acrescenta que, embora ele tivesse prometido nunca mais lutar por dinheiro, ela o liberava da promessa já que ele o fazia por razões nobres, mas, claro, os dois que estavam ali na frente dela, eram idiotas demais para entender isso.

A mensagem do filme, eu acho que há uma, não é assim tão sombria, o samurai finalmente atravessa o rio com sua digníssima e amorosa esposa, ela gostaria que ele se integrasse, que tivesse um bom trabalho, mas ao mesmo tempo tem orgulho do caráter dele e o aceita tal qual ele é. Ele se lava numa queda d’água no meio do caminho e diz à esposa que está bem, pronto para a próxima, para continuar tentando.
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Ame Agaru, JAP, 1999, Direção: Takashi Koizumi, Roteiro: Akira Kurosawa, Elenco: Akira Terao, Yoshiko Miyazaki, Shiro Mifune, Mieko Harada, Fumi Dan, Hisashi Igawa, Hidetaka Yoshioka, Tatsuya Nakadai, Duração: 91 min.

Van Gogh

Van Gogh
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